Diva PAVESI
Médaille de Vermeil
Membre et Déléguée de la Société Académique des Arts, Sciences et Lettres
Na qualidade de Membro e Delegada da Societé Académique des Arts, Sciences et Lettres, fundada em 1915, coroada pela Academia Francesa; em nome da Comissão Superiora de Recompensas, tenho a honra e o privilégio em informá-los de que a Academie Arts Sciences et Lettres vai outorgar as suas mais altas insígnias às personalidades brasileiras e portuguesas pelos relevantes serviços prestados às Artes, Ciências, Letras e Cultura.
A cerimônia realizar-se-á no dia 18 de Maio de 2008, às 14 horas em Paris nos Salões do PAVILLON DAUPHINE , Place du Marechal de Lattre Tassigny, Paris, XVI.
Seguido de um Jantar de Gala, em traje de Gala, na presença do Senhor Presidente da Academie, da Comissão Superiora, dos Altos Dignitários, bem como na presença dos Laureados do mundo inteiro e seus convidados.
Laureados Brasileiros de 2008
Medalhas de Ouro:
Sr. Ignácio Coqueiro, diretor de artes cênicas
Sr. Professor Doutor Helio Oliveira Santos, Prefeito de Campinas,
Sr. Marcos Pontes, Primeiro Astronauta e Cosmonauta Brasileiro
Medalha de Vermeil:
Senhorita MARIA RITA, Cantora; Senhora Betty Abrahão, Apresentadora, Escritora, Editora, Colunista; Senhor Mario Boccara, Arquiteto; Senhor Mauricio de Sousa, Editor, Autor, Cartunista; Antonio Interlandi, Ator; Sr. Flavio Capitulino, Restaurador de Artes; Senhor SARRO, Artista Plástico; Senhora ERNA Y, Artista Plástica, Escultora e Pintora.
Medalha de Prata:
Senhor Alci Bubols, Artista Plástico; Senhora Adriane Campos, Artista Plástica, Senhor Dudu Cruz, Artista Plástico; Senhora Delasnieve Daspet, Escritora e Poetisa; Senhora Rita Amaral Erhart, Compositora e Autora, Senhor Terciliano Jr., Artista Plástico;
Senhor Gustavo Siqueira, Cronista e Promotor Cultural.
Laureados Portugueses de 2008
Medalha de Vermeil:
Mariza Nunes, Cantora
Rui Veloso, Cantor
Medalha de Prata:
Pedro Varanda de Castro, Jornalista
Diva Pavesi, Membro e Delegada da Academie Arts Sciences Lettres
97, Rue de la Gare/ 45000 Orléans/ FRANCE Tel: 00 33 2 38 53 78 11 ou 00 33 6 63 79 10 67
E-mail: divapavesi@yahoo.fr Site: http://www.divineinstitut.org/
Apresentação da Academia
A Societé Académique des Arts, Sciences et Lettres, sob a égide de René Flament foi fundada em 1915, coroada pela Academia Francesa et sous le haut patronnage de Sua Excelência, Presidente da Republica da França, Senhor Jacques Chirac.
Essa Academia ocupa um lugar privilegiado, dentro da defesa, encorajamento e promoção da Cultura através das Artes, Ciências e Letras.
Um dos objetivos é enfatizar, promover e premiar o trabalho dos dirigentes, criadores, promotores, produtores e de talentos eméritos nessas disciplinas.
A Academia conta com o brilhante trabalho dos Delegados na França e no mundo inteiro, cuja devoção é apresentar futuros candidatos que mereçam receber as mais altas insígnias das Artes, Ciências e Letras.
Essa premiação é a coroação dos relevantes serviços prestados ao longo de suas carreiras dentro das suas atividades intelectuais, profissionais, culturais e sociais, realizados em seus paises..
A Sociedade Acadêmica tem a sua sede em Paris: 124, AV. Malakoff, 75016 Paris, Tel : 00 33 1 53 70 92 15.
Presidente Geral: Jocelyn PINOTEAU
Vice - Presidente: Yves ALBERT, Jean-Paul de BERNIS, Jean-Marie PAMBOUC
Secretario Gera : Jean-Pierre BOUTIN
Tesoureiro Geral : Stanislas PYTEL
Comissário Geral para Festas: Eric LOCHU
sexta-feira, 25 de abril de 2008
Lançamento do Livro Nos Mulheres volume 6
Diva Pavesi, em sua rica trajetória de vida, teve a iniciativa de criar um projeto com o objetivo de amenizar as diferenças gritantes que há entre o nosso Brasil e os Paises da Europa, onde a educação e a segurança são acessíveis a toda populações.
Seu projeto visa uma aproximação dos povos de língua portuguesa. É um meio de comunicação e cooperação entre os países que sofrem com a pobreza, por não possuírem estrutura educacional competente, uma das bases para uma sociedade mais digna.
O Êxodo da Miséria
Diva Pavesi
Todos os dias, Deus nos dá um momento em que é possível mudar tudo que nos deixa infelizes. O instante mágico é o momento em que um “sim" ou um "não" pode mudar toda a nossa existência.
(autor desconhecido)
Nos últimos 21 anos, vivi em 5 paises da Europa. Cada um com a sua cultura e suas riquezas. Dessas diversidades, pude constatar as diferenças com o Brasil. Os maiores fatores são: educação, formação e segurança.
Uma das coisas mais importantes para a evolução do ser humano, na França, é o acesso aos estudos de altíssimos níveis, todos gratuitos; do curso elementar às universidades. Uma criança, aos 10 anos, pode se tornar bilíngüe. As educações tecnológica, filosófica, cultural e esportiva fazem desses pequenos seres, o grande futuro desse país, reconhecido como um dos berços da cultura.
De Lisboa a Paris, de Tókio a Londres, de Dublin a Nice, passando por Orléans, onde vivem atualmente centenas de brasileiros na clandestinidade, pude vivenciar o fluxo do êxodo brasileiro. O que nos difere desses países europeus? Certamente a desigualdade dos direitos de uma boa educação, respeito, formação e segurança.
Em 1985, vivi durante três meses no Japão. Nessa época, havia poucos brasileiros residindo na capital. Possivelmente por causa da dificuldade de adaptação. Pensei na história dos japoneses, que imigraram há um século para o Brasil, a fim de evoluírem economicamente. Hoje, com a nossa crise econômica, o japonês faz o inverso: envia seus filhos e netos de volta para o Japão, incentivando-os a se estabelecerem no Império do Sol Levante.
Em 1986, quando cheguei em Portugal, para ser professora da cadeira de rádio e televisão na Universidade de Lisboa, éramos mais ou menos mil brasileiros. Em três ou quatro anos, já superávamos os trintas mil. Dentre eles, os famosos “pára-quedistas” – pessoas sem formação, que se sujeitavam a viver no submundo, em troca de míseros “escudinhos”. Hoje, são mais de cem mil brasileiros vivendo em Portugal, porta da Europa. Atualmente, a situação é bem diferente: já não somos mais tão bem-vindos assim. A concorrência é atroz. Muitos brasileiros ouvem diariamente a famosa frase que desestabiliza: Volta pra tua terra, pa!
Em 1993, fui convidada pelo Presidente de Angola para cobrir a décima Cimeira dos Palop’s[1] em São Tomé e Príncipe. Descobri que a África era a verdadeira irmã gêmea do Brasil, sobretudo no tocante às desigualdades e à precariedade no âmbito educacional. Iniciei as entrevistas com todos os embaixadores, ministros e alguns presidentes que, sorridentes, faziam um mesmo discurso eloqüente sobre as relações Brasil e África. Na verdade, existia um desejo de intercâmbios entre os dois países, mas na prática, tudo estava por fazer. Os dois continentes endividados, sem recursos, não propiciavam oportunidades.
Com a nossa hecatombe econômica, brasileiros se auto-exilaram na Europa. E os africanos? Quantos morreram afogados, ou mortos de cansaço e fome, tentando atravessar as fronteiras da velha Europa, sonhando com um mundo mais justo e fraternal?
Questionei-me: “O que poderia fazer para cooperar e mudar a nossa história?” A África me parecia totalmente abandonada. Senti que um jornal poderia ligar esses países africanos com o Brasil, Portugal e a França, meu novo país de adoção. A “Lusofonia” aparecia como uma força comum, permitindo aos cinco países caminharem juntos e mais longe, utilizando o grande elo cultural para a implementação dos intercâmbios culturais, sócio-econômicos que seriam, mais tarde, profícuos entre si.
Decidi criar, em Paris, um jornal bilíngüe Afro-Franco-Brasileiro, intitulado PALOP JORNAL, para sedimentar os laços históricos e culturais entre o Brasil e África. O objetivo desse jornal era estabelecer relações de cooperação e solidariedade entre os diferentes países que compreendiam a África lusófona e os países de língua francesa, passando por Portugal, França e Brasil.
O Palop Jornal queria ser um ator importante nessa última década, consolidando as capacidades desses países, permitindo a evolução desses povos, e preparando o terceiro milênio, esperando que ele fosse mais justo e fraternal. Imigrantes brasileiros e africanos deveriam se tornar mais fortes e unidos, para que as consolidações das ações sociais, culturais e econômicas fossem mais ativas entre esses países.
Acreditava no futuro do Brasil e da África. Com o surgimento de novos políticos e estratégias, numa iminente mudança em todo o continente africano e brasileiro, não seríamos mais obrigados a abandonar a Pátria e os familiares, para tentarmos um futuro na Europa.
A viagem à África despertou-me e me motivou a combater essas injustiças. Constatei que pobreza é igual em qualquer parte do mundo. “Se a pobreza é a mãe dos crimes, a falta de espírito é o pai.”
Fiquei muito chocada. Certas cenas jamais desapareceram da minha memória.
Certa manhã, saí para caminhar e deparei com várias senhoras que lavavam roupas no rio. Nunca me esquecerei da Maria de Luz, uma jovem de 28 anos que aparentava quase 50. Maria era muito magra, com a boca toda desdentada e pés nus; trabalhava 10 horas por dia lavando roupas de várias patroas para sustentar, sozinha, uma escadinha de 8 crianças. Na hora do almoço, vi que ela tinha apenas uma banana e um pedaço de pão para comer. Fiquei revoltada. Na noite anterior, tinha estado num maravilhoso restaurante com alguns ministros, jantar de luxo, acompanhado de champagne. Exatamente como nas boas famílias francesas. Pensei: “- Já vi esse filme!” O povo sempre oprimido, sonhando com um futuro melhor. O que restava, senão sonhar. Maria, sorrindo me disse: “- Espero que os meus filhos tenham uma vida melhor que a minha!”
A miséria e a tristeza são iguais em qualquer parte do mundo. Se o sofrimento e a miséria eram pontos negativos em comum, com o Brasil, também posso afirmar que existiam outros positivos: entre todos esses africanos dos diferentes países que conheci, descobri a verdadeira hospitalidade e fraternidade. A língua nos unia. Tínhamos os mesmo anseios: ver o Brasil e África lusófona mais fortes e estáveis.
Esses versos, do poeta Nil Luz, retratam perfeitamente o meu estado de espírito da época: algumas vezes de esperança e, muitas outras, de desilusões com a realidade da miséria, injustiças e humilhações.
E, se de repente todos caminhassem numa mesma direção.
Homens fardados, civis civilizados!
Servissem ao século da iluminação
Armas no chão, orgulho enterrado no buraco da destruição.
Meu abraço irmão realizasse a Paz e o Amor dessa união
Mas, agora! Eu quero ver esta Paz chegando no mundo…
Para que o caminho da vida seja a Liberdade do nosso querer
E entre o Amor e a razão possamos encontrar a verdade e o prazer
Para que a mulher seja bem vinda no que pensar fazer
E a utopia no coração do homem seja o seu poder.
Para que as crianças governem o mundo com a sua doçura de ser
E a Paz seja dada aos que morrem com a vontade louca de viver
Onde a fome e a guerra, o medo e a tristeza não possam vencer.
A alegria, a beleza, o pão refazer, o trabalho crescer.
Para que cada língua seja a Pátria verdadeira Luz do saber
Num planeta de força e raça com dignidade de viver
Na esperança de um mundo inaugurar e por Deus renascer
“Uma estrela de mil pontas no céu do firmamento de vez.”
Durante dois anos refleti sobre essa viagem, que me interpelou profundamente.
Em 25 de Outubro de 1995, criei a Ong Franco-Brasileira Cultural e Humanitária Divine Productions, baseada na lei francesa de 1901, sem fins lucrativos.
Fazem 12 anos que essa verdadeira guerreira da defesa e promoção dos artistas plásticos, designers, literatura, músicos e do cinema afro-brasileiro, está lutando para que os franceses e os europeus possam dignificar ainda mais a nossa cultura. Nossa missão é sensibilizar os Franceses nas nossas ações culturais e humanitárias em prol das crianças carentes brasileiras e africanas. Temos vários projetos culturais, dentre eles, a criação de uma biblioteca na escola onde estudei quando criança no bairro da Freguesia do Ó.
Nos últimos 10 anos, morei em Londres e Dublin, onde criei o Jornal Hello Brazil, para defender e difundir as artes e cultura do Brasil, África e França.
Nas cidades cosmopolitas como Paris e Londres, tive a justa percepção do que significa educação, formação, cultura, respeito às diversidades, direitos de igualdades civis.
Após 21 anos vivendo na Europa, tenho a forte convicção de que a educação e a formação são bases sólidas para um futuro com dignidade e respeito, sem correr o risco de uma decisão dolorosa de se auto exilar, achando que o futuro está na Europa.
Através do meu humilde trabalho de Presidente de uma Ong Cultural, de escritora, jornalista, produtora cultural, delegada da Académie Arts Sciences Lettres e representante da Rede de Escritoras Brasileiras, penso que estou contribuindo para o futuro do Brasil.
Acredito na força que emana do nosso povo brasileiro, mas sei que ainda temos muito que fazer para merecer uma sociedade mais justa e fraternal.
A frase “LIBERTÉ, EGALITÉ, FRATERNITÉ” ecoa em minha alma verde amarela.
Eu estou fazendo a minha parte! E você?
Diva Pavesi
50 anos, Brasileira nascida em São Paulo-SP, é naturalizada Francesa; vive na Europa há 21 anos. Formada em Jornalismo e Relações Públicas pela Fundação Casper Líbero, São Paulo, em 1986. MTB / 45871 SP MS 17.854. Pós-graduada pelas Universidades de Sorbonne, em Paris, e Universidade de Dublin, Irlanda, nas áreas: Cultura, Business e Comunicação. Fala fluentemente quatro idiomas: Francês, Inglês, Espanhol e Italiano. Presidente da ONG Cultural Francesa para a promoção das Artes e Cultura Brasileira na França e Europa.
Atualmente é jornalista da revista CARAS. Representa a REBRA - Rede de Escritoras Brasileiras. Delegada da Académie Arts Sciences Lettres, coroada pela Academia Francesa.
Como escritora, lançou o livro de arte CARNAVAL DO RIO, em 1998, na França e no Brasil. Participou de duas Antologias em 2007: Talentos Delas – Editora Scortecci e Caminhos do Amor – Oficina Editora. Recebeu em 2003 e 2004, pela Académie Arts Sciences Lettres, a Medalha de Vermeil e de Ouro pelos relevantes serviços prestados à Cultura.
Contato: divapavesi@yahoo.fr
Site: www.divineinstitut.org
[1] Conferência dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa
Seu projeto visa uma aproximação dos povos de língua portuguesa. É um meio de comunicação e cooperação entre os países que sofrem com a pobreza, por não possuírem estrutura educacional competente, uma das bases para uma sociedade mais digna.
O Êxodo da Miséria
Diva Pavesi
Todos os dias, Deus nos dá um momento em que é possível mudar tudo que nos deixa infelizes. O instante mágico é o momento em que um “sim" ou um "não" pode mudar toda a nossa existência.
(autor desconhecido)
Nos últimos 21 anos, vivi em 5 paises da Europa. Cada um com a sua cultura e suas riquezas. Dessas diversidades, pude constatar as diferenças com o Brasil. Os maiores fatores são: educação, formação e segurança.
Uma das coisas mais importantes para a evolução do ser humano, na França, é o acesso aos estudos de altíssimos níveis, todos gratuitos; do curso elementar às universidades. Uma criança, aos 10 anos, pode se tornar bilíngüe. As educações tecnológica, filosófica, cultural e esportiva fazem desses pequenos seres, o grande futuro desse país, reconhecido como um dos berços da cultura.
De Lisboa a Paris, de Tókio a Londres, de Dublin a Nice, passando por Orléans, onde vivem atualmente centenas de brasileiros na clandestinidade, pude vivenciar o fluxo do êxodo brasileiro. O que nos difere desses países europeus? Certamente a desigualdade dos direitos de uma boa educação, respeito, formação e segurança.
Em 1985, vivi durante três meses no Japão. Nessa época, havia poucos brasileiros residindo na capital. Possivelmente por causa da dificuldade de adaptação. Pensei na história dos japoneses, que imigraram há um século para o Brasil, a fim de evoluírem economicamente. Hoje, com a nossa crise econômica, o japonês faz o inverso: envia seus filhos e netos de volta para o Japão, incentivando-os a se estabelecerem no Império do Sol Levante.
Em 1986, quando cheguei em Portugal, para ser professora da cadeira de rádio e televisão na Universidade de Lisboa, éramos mais ou menos mil brasileiros. Em três ou quatro anos, já superávamos os trintas mil. Dentre eles, os famosos “pára-quedistas” – pessoas sem formação, que se sujeitavam a viver no submundo, em troca de míseros “escudinhos”. Hoje, são mais de cem mil brasileiros vivendo em Portugal, porta da Europa. Atualmente, a situação é bem diferente: já não somos mais tão bem-vindos assim. A concorrência é atroz. Muitos brasileiros ouvem diariamente a famosa frase que desestabiliza: Volta pra tua terra, pa!
Em 1993, fui convidada pelo Presidente de Angola para cobrir a décima Cimeira dos Palop’s[1] em São Tomé e Príncipe. Descobri que a África era a verdadeira irmã gêmea do Brasil, sobretudo no tocante às desigualdades e à precariedade no âmbito educacional. Iniciei as entrevistas com todos os embaixadores, ministros e alguns presidentes que, sorridentes, faziam um mesmo discurso eloqüente sobre as relações Brasil e África. Na verdade, existia um desejo de intercâmbios entre os dois países, mas na prática, tudo estava por fazer. Os dois continentes endividados, sem recursos, não propiciavam oportunidades.
Com a nossa hecatombe econômica, brasileiros se auto-exilaram na Europa. E os africanos? Quantos morreram afogados, ou mortos de cansaço e fome, tentando atravessar as fronteiras da velha Europa, sonhando com um mundo mais justo e fraternal?
Questionei-me: “O que poderia fazer para cooperar e mudar a nossa história?” A África me parecia totalmente abandonada. Senti que um jornal poderia ligar esses países africanos com o Brasil, Portugal e a França, meu novo país de adoção. A “Lusofonia” aparecia como uma força comum, permitindo aos cinco países caminharem juntos e mais longe, utilizando o grande elo cultural para a implementação dos intercâmbios culturais, sócio-econômicos que seriam, mais tarde, profícuos entre si.
Decidi criar, em Paris, um jornal bilíngüe Afro-Franco-Brasileiro, intitulado PALOP JORNAL, para sedimentar os laços históricos e culturais entre o Brasil e África. O objetivo desse jornal era estabelecer relações de cooperação e solidariedade entre os diferentes países que compreendiam a África lusófona e os países de língua francesa, passando por Portugal, França e Brasil.
O Palop Jornal queria ser um ator importante nessa última década, consolidando as capacidades desses países, permitindo a evolução desses povos, e preparando o terceiro milênio, esperando que ele fosse mais justo e fraternal. Imigrantes brasileiros e africanos deveriam se tornar mais fortes e unidos, para que as consolidações das ações sociais, culturais e econômicas fossem mais ativas entre esses países.
Acreditava no futuro do Brasil e da África. Com o surgimento de novos políticos e estratégias, numa iminente mudança em todo o continente africano e brasileiro, não seríamos mais obrigados a abandonar a Pátria e os familiares, para tentarmos um futuro na Europa.
A viagem à África despertou-me e me motivou a combater essas injustiças. Constatei que pobreza é igual em qualquer parte do mundo. “Se a pobreza é a mãe dos crimes, a falta de espírito é o pai.”
Fiquei muito chocada. Certas cenas jamais desapareceram da minha memória.
Certa manhã, saí para caminhar e deparei com várias senhoras que lavavam roupas no rio. Nunca me esquecerei da Maria de Luz, uma jovem de 28 anos que aparentava quase 50. Maria era muito magra, com a boca toda desdentada e pés nus; trabalhava 10 horas por dia lavando roupas de várias patroas para sustentar, sozinha, uma escadinha de 8 crianças. Na hora do almoço, vi que ela tinha apenas uma banana e um pedaço de pão para comer. Fiquei revoltada. Na noite anterior, tinha estado num maravilhoso restaurante com alguns ministros, jantar de luxo, acompanhado de champagne. Exatamente como nas boas famílias francesas. Pensei: “- Já vi esse filme!” O povo sempre oprimido, sonhando com um futuro melhor. O que restava, senão sonhar. Maria, sorrindo me disse: “- Espero que os meus filhos tenham uma vida melhor que a minha!”
A miséria e a tristeza são iguais em qualquer parte do mundo. Se o sofrimento e a miséria eram pontos negativos em comum, com o Brasil, também posso afirmar que existiam outros positivos: entre todos esses africanos dos diferentes países que conheci, descobri a verdadeira hospitalidade e fraternidade. A língua nos unia. Tínhamos os mesmo anseios: ver o Brasil e África lusófona mais fortes e estáveis.
Esses versos, do poeta Nil Luz, retratam perfeitamente o meu estado de espírito da época: algumas vezes de esperança e, muitas outras, de desilusões com a realidade da miséria, injustiças e humilhações.
E, se de repente todos caminhassem numa mesma direção.
Homens fardados, civis civilizados!
Servissem ao século da iluminação
Armas no chão, orgulho enterrado no buraco da destruição.
Meu abraço irmão realizasse a Paz e o Amor dessa união
Mas, agora! Eu quero ver esta Paz chegando no mundo…
Para que o caminho da vida seja a Liberdade do nosso querer
E entre o Amor e a razão possamos encontrar a verdade e o prazer
Para que a mulher seja bem vinda no que pensar fazer
E a utopia no coração do homem seja o seu poder.
Para que as crianças governem o mundo com a sua doçura de ser
E a Paz seja dada aos que morrem com a vontade louca de viver
Onde a fome e a guerra, o medo e a tristeza não possam vencer.
A alegria, a beleza, o pão refazer, o trabalho crescer.
Para que cada língua seja a Pátria verdadeira Luz do saber
Num planeta de força e raça com dignidade de viver
Na esperança de um mundo inaugurar e por Deus renascer
“Uma estrela de mil pontas no céu do firmamento de vez.”
Durante dois anos refleti sobre essa viagem, que me interpelou profundamente.
Em 25 de Outubro de 1995, criei a Ong Franco-Brasileira Cultural e Humanitária Divine Productions, baseada na lei francesa de 1901, sem fins lucrativos.
Fazem 12 anos que essa verdadeira guerreira da defesa e promoção dos artistas plásticos, designers, literatura, músicos e do cinema afro-brasileiro, está lutando para que os franceses e os europeus possam dignificar ainda mais a nossa cultura. Nossa missão é sensibilizar os Franceses nas nossas ações culturais e humanitárias em prol das crianças carentes brasileiras e africanas. Temos vários projetos culturais, dentre eles, a criação de uma biblioteca na escola onde estudei quando criança no bairro da Freguesia do Ó.
Nos últimos 10 anos, morei em Londres e Dublin, onde criei o Jornal Hello Brazil, para defender e difundir as artes e cultura do Brasil, África e França.
Nas cidades cosmopolitas como Paris e Londres, tive a justa percepção do que significa educação, formação, cultura, respeito às diversidades, direitos de igualdades civis.
Após 21 anos vivendo na Europa, tenho a forte convicção de que a educação e a formação são bases sólidas para um futuro com dignidade e respeito, sem correr o risco de uma decisão dolorosa de se auto exilar, achando que o futuro está na Europa.
Através do meu humilde trabalho de Presidente de uma Ong Cultural, de escritora, jornalista, produtora cultural, delegada da Académie Arts Sciences Lettres e representante da Rede de Escritoras Brasileiras, penso que estou contribuindo para o futuro do Brasil.
Acredito na força que emana do nosso povo brasileiro, mas sei que ainda temos muito que fazer para merecer uma sociedade mais justa e fraternal.
A frase “LIBERTÉ, EGALITÉ, FRATERNITÉ” ecoa em minha alma verde amarela.
Eu estou fazendo a minha parte! E você?
Diva Pavesi
50 anos, Brasileira nascida em São Paulo-SP, é naturalizada Francesa; vive na Europa há 21 anos. Formada em Jornalismo e Relações Públicas pela Fundação Casper Líbero, São Paulo, em 1986. MTB / 45871 SP MS 17.854. Pós-graduada pelas Universidades de Sorbonne, em Paris, e Universidade de Dublin, Irlanda, nas áreas: Cultura, Business e Comunicação. Fala fluentemente quatro idiomas: Francês, Inglês, Espanhol e Italiano. Presidente da ONG Cultural Francesa para a promoção das Artes e Cultura Brasileira na França e Europa.
Atualmente é jornalista da revista CARAS. Representa a REBRA - Rede de Escritoras Brasileiras. Delegada da Académie Arts Sciences Lettres, coroada pela Academia Francesa.
Como escritora, lançou o livro de arte CARNAVAL DO RIO, em 1998, na França e no Brasil. Participou de duas Antologias em 2007: Talentos Delas – Editora Scortecci e Caminhos do Amor – Oficina Editora. Recebeu em 2003 e 2004, pela Académie Arts Sciences Lettres, a Medalha de Vermeil e de Ouro pelos relevantes serviços prestados à Cultura.
Contato: divapavesi@yahoo.fr
Site: www.divineinstitut.org
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