segunda-feira, 19 de novembro de 2007


Queridos amigos, o lançamento do nosso livro foi um grande sucesso.
Agradeço à todos o carinho. Agora poderao apreciar o texto na integralidade.
"O Êxodo da Miséria"
De Diva Pavesi


“Todos os dias Deus nos dá um momento em que é possível mudar tudo que nos deixa infelizes. O instante mágico é o momento em que um”sim" ou um "não" pode mudar toda a nossa existência.”
“Lamento as palavras serem ruins e tristes, mas o estado de espírito não... É aqui que a desilusão é um triste fato, e os sentimentos, emoções que não...”

Autores desconhecidos

Nos últimos 21 anos, vivi em 5 países da Europa. Cada um com a sua cultura e suas riquezas. Dessas diversidades, pude constatar as diferenças com o Brasil. Os maiores fatores são: educação, formação e segurança.
Uma das coisas mais importantes para a evolução do ser humano na França, é o acesso aos estudos de altíssimos níveis, todos gratuitos; do curso elementar às universidades.
Uma criança aos 10 anos, pode se tornar bilíngüe. A educação tecnológica, filosófica, cultural e esportiva, fazem desses pequenos seres, o grande futuro desse pais , reconhecido como um dos berços da cultura.
De Lisboa, a Paris, de Tókio, a Londres, de Dublin a Nice, passando por Orléans, onde vivem atualmente centenas de brasileiros na clandestinidade, pude vivenciar o fluxo do êxodo brasileiro.
O que nos difere desses paises europeus? Certamente a desigualdade dos direitos de uma boa educação, respeito, formação e segurança.
Em 1985, vivi durante três meses no Japão. Nessa época, havia poucos brasileiros residindo na capital. Possivelmente por causa da dificuldade de adaptação. Pensei na estória dos japoneses, que imigraram há um século para o Brasil, a fim de evoluírem economicamente. Hoje, com a nossa crise econômica, o japonês faz o inverso: envia seus filhos e netos de volta para o Japão, incentivando-os a se estabelecerem no Império do Sol Levante.
Em 1986, quando cheguei em Portugal, para ser professora da cadeira de radio e televisão na Universidade de Lisboa, éramos mais ou menos mil brasileiros. Em três ou quatro anos, já superávamos os trintas mil. Dentre eles os famosos “pára-quedistas”; pessoas sem formação, que se sujeitavam a viver no submundo; em troca de míseros “escudinhos”. Hoje são mais de cem mil brasileiros vivendo em Portugal, porta da Europa. Atualmente a situação é bem diferente, já não somos mais tão bem-vindos assim. A concorrência é atroz. Muitos brasileiros ouvem diariamente a famosa frase que desestabiliza: “Volta pra tua terra, pa!
Em 1993, fui convidada pelo Presidente de Angola para cobrir a décima Cimeira dos Palop’s em São Tomé e Príncipe. Descobri que a África era a verdadeira irmã gêmea do Brasil, sobretudo no tocante as desigualdades e a precariedade no âmbito educacional.
Iniciei as entrevistas com todos os embaixadores, ministros e alguns presidentes; que sorridentes faziam um mesmo discurso eloqüente sobre as relações Brasil e África.
Na verdade existia um desejo de intercâmbios entre os dois paises, mas na pratica, tudo estava por fazer. Os dois continentes endividados, sem recursos, não propiciavam oportunidades.
Com a nossa hecatombe econômica, brasileiros se auto-exilaram na Europa. E os africanos? Quantos morreram afogados, ou mortos de cansaço e fome, tentando atravessar as fronteiras da velha Europa, sonhando com um mundo mais justo e fraternal?

Questionei-me, o que poderia fazer para cooperar e mudar a nossa historia? A África me parecia totalmente abandonada. Senti que um jornal poderia ligar esses paises africanos com o Brasil, Portugal e a França, meu novo país de adoção.
A “Lusofonia” aparecia como uma força comum permitindo aos cinco paises de caminhar juntos e mais longe, utilizando o grande elo cultural para a implementação dos intercâmbios culturais, socioeconômicos que seriam mais tardes profícuos entre si.

Decidi criar em Paris, um jornal bilíngüe Afro - Franco- Brasileiro intitulado “PALOP JORNAL”, para sedimentar os laços históricos e culturais, entre o Brasil e África.
O objetivo desse jornal era estabelecer relações de cooperação e solidariedade entre os diferentes paises que compreendiam a África lusófona e os paises de lingua francesa, passando por Portugal, França e Brasil.

O Palop Jornal queria ser um ator importante nessa ultima década, consolidando as capacidades desses paises, permitindo a evolução desses povos, e preparando o terceiro milênio; esperando que ele fosse mais justo e fraternal. Imigrantes brasileiros e africanos deveriam se tornar mais fortes e unidos para que as consolidações das ações sociais, culturais e econômicas fossem mais ativas entre esses paises.

Acreditava no futuro do Brasil e da África. Com o surgimento de novos políticos e estratégias, numa iminente mudança em todo o continente africano e brasileiro; não seriamos mais obrigados a abandonar a Pátria e os familiares, para tentarmos um futuro na Europa.

A viagem à África, despertou-me e me motivou a combater essas injustiças. Constatei que pobreza é igual em qualquer parte do mundo. “Se a pobreza é a mãe dos crimes, a falta de espírito é o pai.”

Fiquei muito chocada. Certas cenas jamais desapareceram da minha memória.
Certa manha sai para caminhar e deparei com varias senhoras que lavavam roupas no rio.
Nunca me esquecerei da Maria de Luz, uma jovem de 28 anos que aparentava quase 50. Maria era muito magra, com a boca toda desdentada e pés nus, trabalhava 10 horas por dia lavando roupas de varias patroas para sustentar sozinha, uma escadinha de 8 crianças.
Na hora do almoço, vi que ela tinha apenas uma banana e um pedaço de pão, para comer. Fiquei revoltada. Na noite anterior, tinha estado num maravilhoso restaurante com alguns ministros, jantar de luxo, acompanhado de champagne, exatamente como nas boas famílias francesas.
Pensei já vi esse filme! O povo sempre oprimido, sonhando com um futuro melhor. O que restava, senão sonhar. Maria, sorrindo me disse: “Espero que os meus filhos tenham uma vida melhor que a minha”!
A miséria e a tristeza são iguais em qualquer parte do mundo.
Se o sofrimento e a miséria eram pontos negativos em comum, com o Brasil; também posso afirmar que existiam outros positivos: entre todos esses africanos dos diferentes paises, que conheci, descobri a verdadeira hospitalidade e fraternidade.
A língua nos unia.Tínhamos os mesmo anseios: de ver o Brasil e África lusófona, mais fortes e estáveis.
Esses versos do poeta Nil Luz, retratam perfeitamente o meu estado de espírito da época: em algumas vezes de esperança e muitas outras de desilusões com a realidade da miséria, injustiças e humilhações.

“E, se de repente todos caminhassem numa mesma direção.
Homens fardados, civis civilizados!
Servissem ao século da iluminação
Armas no chão, orgulho enterrado no buraco da destruição.
Meu abraço irmão realizasse a Paz e o Amor dessa união
Mas, agora! Eu quero ver esta Paz chegando no mundo…
Para que o caminho da vida seja a Liberdade do nosso querer
E entre o Amor e a razão possamos encontrar a verdade e o prazer
Para que a mulher seja bem vinda no que pensar fazer
E a utopia no coração do homem seja o seu poder.
Para que as crianças governem o mundo com a sua doçura de ser
E a Paz seja dada aos que morrem com a vontade louca de viver
Onde a fome e a guerra, o medo e a tristeza não possam vencer.
A alegria, a beleza, o pão refazer, o trabalho crescer.
Para que cada língua seja a Pátria verdadeira Luz do saber
Num planeta de forca e raça com dignidade de viver
Na esperança de um mundo inaugurar e por Deus renascer
“Uma estrela de mil pontas no céu do firmamento de vez.”

Durante dois anos refleti sobre essa viagem que me interpelou profundamente.

Em 25 de Outubro de 1995, criei a Ong Franco-Brasileira Cultural e Humanitária: “Divine Productions”, baseada na lei francesa de 1901, sem fins lucrativos.
Faz 12 anos que essa verdadeira guerreira da defesa e promoção dos artistas plásticos, designers, músicos e do cinema afro-brasileiro, esta lutando para que os franceses e os europeus possam dignificar ainda mais a nossa cultura.
Nossa missão é sensibilizar os Franceses, nas nossas ações culturais e humanitárias em prol das crianças carentes brasileiras e africanas.
Temos vários projetos culturais dentre eles: a criação de uma biblioteca na escola onde estudei quando criança no bairro da Freguesia do O.

Nos últimos 10 anos, morei em Londres e Dublin, onde criei o Jornal Hello Brazil, para defender e difundir as artes e cultura do Brasil, África e França.
Nas cidades cosmopolitas como Paris e Londres, tive a justa percepção do que significa; educação, formação, cultura, respeito às diversidades, direitos de igualdades civis.

Após 21 anos vivendo na Europa, tenho a forte convicção de que a educação e a formação, são bases sólidas para um futuro com dignidade e respeito, sem correr o risco de uma decisão dolorosa de se auto exilar, achando que o futuro esta na Europa.
Através do meu humilde trabalho de Presidente de uma Ong Cultural, de escritora, jornalista, produtora cultural, delegada da Academie Arts Sciences Lettres e representante da Rede de Escritoras Brasileiras, penso que estou contribuindo para o futuro do Brasil.
Acredito na força que emana do nosso povo brasileiro, mas sei que ainda temos muito que fazer para merecer uma sociedade mais justa e fraternal.

A Frase: “LIBERTE, EGALITE, FRATERNITE”, ecoam em minha alma verde amarela.

Eu estou fazendo a minha parte! E você?

Diva Pavesi

www.divineinstitut.org

Um comentário:

Unknown disse...

Diva, se a Sra. estiver em S.P dia 5/12 será um prazer recebê-la na Exposição do Artista Marlon Vital, que será realizada na Rua Francisco Leitão, 245 Pinheiros.